sábado, 5 de setembro de 2009

Seção delírio I - No que o Gauguin e o hip-hop se parecem?


No que Gauguin e o hip-hop se parecem? No apelo ao sexo e à beleza das mulheres? Seria isso ruim? Falo pejorativamente?
Gauguin foi e será, creio, um dos grandes amores que tive na vida. Diria eu algo ruim do meu amor? Nunca, nunca sem raiva. Mas o hip-hop em sua maioria, na maioria das suas músicas fala de sexo e porque funciona tanto?
Por que o sexo vem funcionando tanto? Vem dando tanto audiência ultimamente? Essa é uma questão que parece transcender ao hip-hop. Poderia fazer outra pergunta, não foi sempre o sexo objeto de intensa disputa? De significado de status e poder? As pessoas sempre não quiseram só sexo e muito?
Nem todas, nem todo o tempo. Mas, porque pra maioria que nós vemos, o outro, o sexo com o outro, fazer sexo de si, é um passo dos mais tempos?
Porque o sexo é uma maneira de chegar a idade adulta, e quando não há outros meios de isso acontecer – quer dizer para a maioria, então busca-se o sexo. Que outros meios seriam esses? Creio que muitas pessoas sabem a resposta. Às vezes, você vai ficando velho e descobre que o mundo não é o mundo da família, dos amigos e do bairro que, pra além disso, existe tudo, talvez, o infinito. Óbvio? Ainda não quando se tem 14 ou 15 anos. Às vezes, você tem a sorte de saber o que sabe fazer bem logo no começo da vida e toma coragem e faz. Você achou um metiér, nasceu para escrever como eu, nasceu para trabalhar com arte, nasceu para as finanças, e aí você vai. Seu peito estufa.
Também você pode encontrar um bom emprego que lhe pague e você deixa a casa dos seus pais. Reunindo algumas dessas coisas, você já não precisa tanto falar de sexo, sim, porque gostar de falar é diferente do gostar de fazer.
E é claro, como última razão, para a busca pelo sexo, está a falta de cultura, no sentido mais conservador da palavra, é claro. Saber das coisas que há no mundo, saber como as outras pessoas vêm tratando das coisas, na arte, literatura, cinema.
Encerrando, sexo é a maneira pela qual os setores mais pobres educacionalmente encaram sua passagem ao mundo adulto, porque a eles não é oferecido muito mais. Falar de sexo é uma coisa que todos podem fazer, não depende de uma boa educação, de um bom entendimento da vida. Você sabe que está lá, é animalesco, mas não animal porque animal seria se isso não estivesse recoberto pelas necessidades de afirmação, dos contornos da fantasia e da identidade.
Mas, eu queria dizer no que Gauguin e o hip-hop se parecem? Bem pouco, na verdade, porque a despeito das belas mulheres nos quadros e videoclipes e a vontade de se atirar a elas, Gauguin nunca pintou para as massas ou por causa de sonhos infantis, por causa de nada. Era ele, pra ele, no que via de mais profundo sobre a vida e sobre as pessoas: a vingança da mulher que outrora foi amada, a raiva feminina do marido após a morte de um filho recém-nascido, só pra citar alguns temas que me recordo.
Há outra questão, apesar de cada um ser filho de seu próprio tempo, Gauguin e hip-hop, o Gauguin está acima, eleva as consciências, você não sabia ou sentia, até que viu e agora, impossível retroceder. Ao mesmo tempo, a admiração por Gauguin requer certa habilidade, certa consciência anterior. O hip-hop é o mesmo quando se tem 14, 15 ou 40 anos.

Um comentário:

  1. Oi moça,

    Interessante os pontos que vc coloca aí, e se me permite vou colocar minha colher nesta panela tb.. :)

    Existe uma conexão muito primitiva entre sexo e poder: entre os leões (bem mais primitivos que a maioria dos humanos... ;)) o acesso ao sexo regular é um direito apenas do macho mais forte, do mais poderoso, do mais desejado. Para as leoas, a população masculina se divide entre o "grande e poderoso mega-leão", e o resto... Essa obsessão por ser a "parceira" do "mega-mega" faz até com que as leoas fiquem férteis ao exato mesmo tempo...

    Entre os humanos, na falta de uma vida mais intelectualizada(que Deus permita, o acesso amplo à Internet em alguma medida amenizará), reduz as disputas pelo parceiro ideal a uma disputa tipicamente "leonina". Ganhando a disputa aquela que for mais "fêmea", daí o excesso de exibicionismo, caras, bocas e rebolados do ambiente "artistico" do Funk/Hip-Hop.

    Só que uma vez chegado a este ponto (baixo) muitos "leões", "lobos", "hienas", "cachorros do mato" e até mesmo os "camundongos" acabarão se refastelando neste grande "banquete social".

    Aquela que no fim da noite saiu do baile nos braços do "cozinheiro do rei", ao menos, poderá se orgulhar de (talvez) vir a se tornar a "rainha da cozinha do castelo", se é que isso lhe basta...

    Não há dúvida que a "beleza percebida" pelos parceiros potenciais está sempre intimamente ligada ao "nível de poder" que cada pessoa tem em si. esta é uma equação bem simples, quanto mais "poderoso", mais "atraente".

    No entanto, esta auto-noção do "poder próprio" entre os homens tende a ser algo muito mais "pragmático" do que entre as mulheres.

    Ao longo da vida delas o grau de beleza fisíca, seguida depois pelo "poder da feminilidade" (muito ligada à experiência de engravidar e ser mãe)e finalmente o incontornável sonho da juventude eterna, do não-envelhecimento. Estes três ítens acima, que, na maioria dos casos, aparecem sempre muito antes de qualquer ambição real de sucesso profissional, financeiro ou intelectual, servem para pautar o caminho para a auto-estima feminina.

    Entre os homens o "auto-valor", esse "poder", se foca muito mais na questão do acesso fácil a novas parceiras sexuais. O resto, a beleza física, o sucesso na carreira/financeiro, os "brinquedos caros", tendem a ser meros atalhos para este "status de macho cobiçado". Por isso, é que em geral os homens tendem a não ver nenhum problema de se valerem de "serviços sexuais profissionais", visão bem diferente daquela da maioria das mulheres. Elas enxergam nesta prática um atestado da "falencia total de sua atratividade sexual pessoal".

    Continuando, se "poder" é o maior dos afrodisíacos, automaticamente, a "fragilidade percebida" é a maior característica broxante da raça humana (e imagino que dos animais tb).

    Simplesmente falando, "gente fraca" (neste caso a palavra 'pobre' seria tb um perfeito sinônimo aqui) não merece nosso tesão. Mesmo se, nos olhando no espelho, nos achemos totalmente fragilizados e/ou severamente ameaçados pela concorrência dos demais no nosso espaço social.

    Justamente neste cenário específico reside a contradição maior das nossas relaçoes homem-mulher: queremos ser percebidos sempre como "atraentes", mas, ao mesmo tempo, queremos que nossos parceiros (ou candidatos a parceiros) nos acalentem e nos deem "colo" e forças, sempre que precisemos, para que possamos nos re-erguer. Essa contradição gera muitos dos problemas que geram as tantas "crises" nos relacionamentos modernos. ;)

    E o Gauguin? Sei lá! *rsrs

    A parte de ser um grande artista, pelo que me lembro, ele partiu para a Polinésia esperando encontrar o Éden na terra, mas ao chegar lá, achou apenas a desagregação da cultura local sob o impacto da presença fisica e cultural dos europeus. Isso agravado por miséria e alcoolismo universalmente distribuídos...

    Gauguin não demorou muito para querer voltar à Europa atras de emprego e grana, deixando por lá seus sonhos e fantasias eróticas juvenis.

    Abs

    F

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